Este foi um dos episódios mais stressantes que tive em viagem. Eu e a Vanessa, uma jovem canadiana com quem viajava há já um mês, conhecemos em Diyarbakir, um jovem de vinte e quatro anos que iria alterar significativamente o rumo desse dia.
Estávamos precisamente a desperdiçar o dia na procura de um cartão de memória para a minha máquina fotográfica, antes de partir para zonas mais remotas, quando surge Mehmet de uma forma cordial, calma e curiosa, tal como era hábito na Turquia. Embora nesse momento não estivesse disposto a perder tempo em conversa, este jovem curco apercebe-se da minha impaciência e insistiu referindo que o irmão é taxista, que o poderia chamar, para juntos percorrermos algumas lojas de fotografia. A ajuda não podia ter surgido em melhor altura. Meia hora depois, o problema tinha sido resolvido.
As doze horas seguintes, foram no seu expoente máximo, um dos melhores exemplos do que é a hospitalidade para com um desconhecido. A insistência para lanchar na casa da família de Mehmet foi tanta que acabámos por aceitar e juntar-nos a eles, apesar de a Vanessa ter o voo de regresso marcado para uma hora depois. Por um lado, a ansiedade aumentava com o aeroporto a 10 km de distância, enquanto por outro na família de Mehmet despertava o desejo de nos conhecer e prolongar a conversa. No final, foi possível satisfazer a curiosidade deles e chegar ao aeroporto a tempo.
Ao regressar a casa, a refeição prolongou-se no terraço, acompanhados de uma belíssima e quente noite de verão. Homens e rapazes disfrutavam do convívio enquanto mulheres dedicavam-se a cozinhar e a serví-los. No final do serão, Mehmet e os seus convidaram-me a pernoitar.
Na manhã seguinte ao acordar deparo-me com um pequeno almoço abundante, tipicamente mediterrânico, composto por três qualidades de queijo, salada de tomate e pepino, azeitonas, pão turco, azeite e geleia acompanhado de çay, uma forma de chá preto, muito comum na Turquia.
Ao referir que me ia deslocar para Mardin, disponibilizaram imediatamente o taxi para me acompanharem até ao destino desejado. Apesar de ter tentado recusar delicadamente inúmeras vezes, deixaram-me na estação dos autocarros.
Seguia dentro da carrinha quando reparei que o veículo ao meu lado não me era estranho. Surge de novo o taxi com Mehmet fora da janela a despedir-se euforicamente com um até sempre. Os passageiros assistiam com curiosidade às despedidas, como se tratasse de um jogo de ping pong intercalado entre nós.
Sempre apaixonado pelas viagens Pedro. Ainda me lembro quando eramos moços e brincávamos juntos.
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