domingo, 29 de abril de 2012

A minha longa travessia do deserto. Marrocos. (Parte II)

 No inicio da travessia tive a coincidência de conhecer o Ahmed que me propôs chegar às dunas de Chigaga da forma que eu procurava, ou seja, a pé com um camelo a acompanhar-nos carregando as nossas provisões, água comida e tenda. Havia a hipótese de eu seguir no topo de um camelo mas iria acrescer doze euros por cada dia de viagem. Coisa que eu recusei. Ahmed era um jovem de vinte e poucos anos, proveniente de famílias nómadas que vivem no e do deserto, sonhava juntar dinheiro desta forma para um dia poder criar uma empresa que fizesse excursões com turistas pelo deserto.

 O Sugar foi o nosso companheiro indispensável e sem o qual tinha sido impossível concretizar este desafio. Alimentava-se de pequenas plantas pelo caminho e de pontos de água localizados que o Ahmed tinha conhecimento. Os dromedários têm a particularidade de terem que ser puxados por uma corda para se deslocarem, caso contrário não seguem o destino que pretendemos. Ao longo de sete dias, Sugar foi puxado por Ahmed por uma corda.

 Esta planta representa um dos alimentos favoritos do Sugar, rica em água e nutrientes.

 Ao contrário do Sugar, as nossas refeições eram compostas por alimentos mais tradicionais, normalmente conservas como atum ou sardinhas, azeitonas, muita fruta e vegetais. Ahmed escolhia alimentos pouco perecíveis e tinha o cuidado de elaborar os pratos para alimentar a fome com o olhar.

Sugar apesar de ser um dromedário com bom porte também necessitava de descansar. Sempre que efectuávamos uma paragem, Ahmed aproveitava para aliviar a carga e deixá-lo um pouco à solta com as patas da frente amarradas, de forma a evitar que se deslocasse para muito longe.


O nosso dia a dia tinha uma certa rotina. Logo após o acordar, por volta das sete horas da manhã, consistia em preparar o pequeno almoço, composto por chá, biscoitos, pão e queijo da vaca que ri. Logo de seguida, desmontávamos o bivouac, carregávamos o Sugar e andávamos até chegar a hora de maior calor, quando o Ahmed encontrava uma pequena sombra para preparar o almoço e descansarmos até cerca de meio da tarde, quando o Sol se encontrava mais baixo. Continuávamos a caminhada durante a tarde até ao pôr do sol. Nessa altura, o Ahmed escolhia um ponto abrigado, perto de dunas ou de árvores. Montávamos o bivouac, preparávamos o jantar. Por vezes, juntavam-se a nós pastores que andavam a guardar dromedários e que conheciam Ahmed. Faziam-nos companhia, prolongando a noite em conversas. Noutras ocasiões, dava um passeio nocturno procurando o silêncio do deserto e o céu estrelado que sítios inóspitos e isolados como este nos proporcionam.

Continua a caminhada seguindo o rasto deixado pelas patas do Sugar...

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