segunda-feira, 16 de abril de 2012

Erbil, capital do Governo Regional Curdo - “O outro Iraque” (Parte II)



Vista panorâmica da Cidadela para a parte nova da cidade.


Uma das entradas para o mercado.




O café central e o senhor mudo a quem a Vanessa através de linguagem gestual tirou um sorriso.



A Cidadela, prova que depois de oito mil anos, Erbil é a cidade mais antiga do mundo continuamente habitada.






















Erbil, ou em curdo, Hawler, é a capital do Governo Regional Curdo e a maior cidade do Curdistão Iraquiano.Tem a sua importância e daí ser reconhecida mundialmente, dado que a sua cidadela está para ser confirmada pela UNESCO como a mais antiga cidade do mundo, continuamente habitada desde há oito mil anos.

Apesar da sua idade, actualmente esta Cidadela, dos seus 40 metros de altura observa com a mesma atenção os acontecimentos mais recentes. A reconstrução de Erbil avança a uma velocidade galopante, com projetos bastante ambiciosos, tal como o mais alto edifício no Iraque, a torre Torek, um centro comercial com oito mil lojas, hotéis de luxo e até um moderníssimo aeroporto. A reconstrução de infra-estruturas é simbolismo de modernidade e progresso, e é exactamente assim que o Curdistão Iraquiano quer ser visto.

Chegamos a Erbil num final de tarde já bastante cansados, dado que saímos de Dohuk cedo com paragem em Lalish o que nos tinha consumido todo o dia, no fundo, queríamos um sitio para descansar e isso não estava a ser fácil, pois encontrava-se tudo esgotado. Diziam que muitos iraquianos tiram férias nesta altura e que muitas famílias deslocavam-se exactamente para a capital e que tanto estrangeiros como iraquianos também se deslocavam aqui em negócios.
Conseguimos finalmente encontrar algo num beco bastante escondido, no entanto, ainda a muito custo. Não pareciam querer alugar o espaço e nunca cheguei a perceber a verdadeira razão. Se por uma questão de moral, dado sermos homem e mulher no mesmo apartamento, se pelo facto de ser o pior quarto onde provavelmente fiquei e irei ficar e não nos quererem presentear com essa surpresa.

Depois deste dia bastante atribulado, foi nessa noite quando saímos um pouco que conhecemos uma das personagens mais caricatas da minha viagem. O Muffit, como se apresentava, um senhor na casa dos quarenta e tais anos que quis ser o nosso guia pessoal e exclusivo durante os nossos três dias em Erbil, sem nunca pedir nada em troca.

Encontrou-nos um bom sitio alternativo e barato para pernoitar como segunda opção, que aceitamos logo de bom grado. Vinha acordar-nos logo pela manhã, para tomarmos o pequeno almoço, e daí só parávamos por volta do por do sol. Seguíamos-o para onde nos quisesse levar, e, muitas vezes, penso que ate ele mesmo perdia a noção de onde andávamos ou onde nos queria levar. Exploramos todos os recantos do mercado, revirámos o centro da cidade, a periferia e até a Cidadela.

Seguindo os seus passos e observando através do seu olhar, tivemos acesso a realidades, pessoas e sítios que de outra forma nos tinha passado completamente despercebido.

Um dos episódios mais marcantes passou-se num dos sítios mais encantadores, um café centenário no coração do mercado, com bastante história, documentada em cada pedaço de parede, que pelos vistos há muito ocupado na sua totalidade, por fotografias e recortes. Sentamos-nos para tomar chá, olho em redor e quando me dirijo a um senhor bastante apresentável que estava a meu lado, noto que fica impávido e sereno a olhar para mim, como se não lhe tivesse dito nada. Estranhei, pensei que não me tivessse ouvido, enquanto surge logo o Muffit a pedir desculpa porque o senhor era mudo. Curiosamente e para meu espanto, reparo que a Vanessa começa a comunicar por linguagem gestual que tinha aprendido à anos, enquanto eu me apercebo do sorriso inocente que surge no senhor. Parecia estar a sentir falta de comunicar com alguém o que me deixou bastante comovido, pois o mesmo estava bastante curioso por nós e por falar de si.

Outro episódio marcante, no que foi talvez o maior susto de viagem, deu-se quando decidimos dar uma volta à noite, e numa das ruas, por acaso bastante escura e sombria do mercado, por estar já encerrado, surge alguém de kalashnikov em punho! Apressámos a passada, pois “Iraque” e “Ak-47” não era sequer aquilo que conjugava muito no meu imaginário, quanto mais na realidade. Parámos e entramos numa loja, quando ao explicar a situação, riem-se, e explicam que são idosos, reformados, que desempenham o papel de vigilantes de bairro por pequenas quantias e podíamos estar descansados.

Outro facto curioso foi o de sermos muito bem recebidos. Era de facto uma surpresa para muitos verem ali turistas e nas lojas, pequenas bancas de comércio, cafés ou restaurantes era bastante comum oferecerem-nos ou surgir alguém a pagar a nossa despesa.

Algo que me permanecerá também na memória para sempre será as noites quentes de início de Julho, quando terminávamos o dia com o Muffit, e nos deslocávamos para a praça principal, mesmo por baixo da Cidadela frente à sua fonte de água luminosa a fumar provavelmente algumas das melhores narguilleh’s que já provei e um chá maravilhoso, apreciando apenas a calma e serenidade do momento, enquanto idosos nos faziam o mesmo, crianças brincavam, famílias passeavam e ocasionalmente grupos de jovens pediam para tirarmos fotos. Sentia-me em casa, ou melhor, sentia que pertencia àquele universo, àquele momento. Será possível?

4 comentários:

  1. Muito, muito, muito bonito...que viagens fantásticas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Recomendo mesmo muito a quem passe pelo sul da Turquia a visitar este maravilhoso local e a conhecer estas pessoas. Simbolizam para mim o expoente máximo da modéstia e excelente hospitalidade.

      Eliminar
  2. AMEI!! QUE MÁXIMO ESSE INTERCÂMBIO DE VOCÊS!
    PARABÉNS!

    ResponderEliminar
  3. AMEI!! QUE MÁXIMO ESSE INTERCÂMBIO DE VOCÊS!
    PARABÉNS!

    ResponderEliminar