Depois de uns dias em Erbil deslocámos-nos para Sulaymaniyah, a sudoeste do Iraque. O único transporte fiável no Iraque são táxis, compostos por um frota renovadissíma, em perfeitas condições. Cobravam cerca de 20 euros por 100 quilómetros, o que para ocidentais é bastante acessível tendo em conta a distância.
Ainda não tinha ganho confiança nesta altura para andar à boleia, mas queria experimentar o transporte público (ok, e poupar dinheiro!), pois não era recomendado nem por livros nem por pessoas. Mas valeu a aventura. Era ridicularmente barato, cerca de 2-3 euros por 100 quilómetros. Sentimos imediatamente que tínhamos feito o melhor negócio de sempre pois o autocarro nem parecia tão mau, mesmo comparado com países vizinhos. No entanto, levou quase 3 horas para arrancar da paragem, pois não aparecia ninguém, e neste lado do mundo os transportes públicos só arrancam quando se encontram quase cheios, para se rentabilizar.
Finalmente partiu. Demos graças, até me recordar de algo que me fez imediatamente pegar no mapa. Passo a explicar: para Sulaymaniyah existem duas estradas, uma por Koya a norte, a mais segura, e outra a sul que passa por Kirkuk, uma cidade comparada a nível de segurança a Mosul e Baghdad. Assustado, tentei perceber qual o caminho que teríamos seguido. Vi no horizonte chamas a surgirem de oleodutos, provenientes dos campos de petróleo, que existem em...Kirkuk! Deixei de ter dúvidas, lembrei-me de ter sido avisado para não entrar por nada na cidade. Ao confirmar através de linguagem gestual com outros passageiros e perante algumas falhas de comunicação, só fiquei descansado quando continuamos depois da interceção rumo a Sulaymaniyah.
A meio caminho, o condutor fez uma paragem, certamente não para compensar as três horas de atraso. o motivo era um pequeno restaurante, onde muitos tomaram a opção de comer algo, permanecendo lá talvez outra hora. Quando retomamos finalmente, a carrinha começou a chiar, aquecendo bastante, até parar em plena autoestrada. Pensei que só faltaria aparecer o "delegado de saúde" para confirmar o óbito, mas o condutor conseguir "reanimá-la". Todos para fora da carrinha, esperar que a temperatura baixasse. Neste momento percebi definitivamente porque é toda a gente tenta evitar os transportes públicos, e também o porquê de ser uma bagatela.
Chegamos finalmente ao terminal onde esperámos pelo Robert, um kenyano que conheci, e que estava à cerca de 3 anos em Sulaymaniyah a trabalhar como eletricista para os camiões da MAN. Enquanto não chegava ficámos a ver o Mundial de 2010, algo quase religioso para os curdos.
Foi através dos olhos de Robert que fiquei a conhecer bastante sobre esta zona do Iraque, estava perfeitamente integrado na cultura, e confidenciava-nos que tinha já chegado a sua altura de partir, algo que os seus chefes e amigos curdos não desejavam. Frequentemente lhe perguntavam: “Robert, Curdistan, koxa! (bonito), yes?”, quase que como lhe perguntarem se não ficaria outros 3 anos.
Fomos convidados através de amigos a jantar nos sítios mais chic, desde restaurantes moderníssimos aos bares mais cosmopolitas, frequentemente frequentados pela comunidade estrangeira. Sulaymaniyah apresenta-se como uma cidade muito recente, a mais liberal e bastante moderna, observável pelas suas universidades, museus e até galerias de arte. Ao passo que contrasta simultaneamente com as suas raízes e as suas gentes mais modestas, mais tradicionais, algo que podemos observar no seu mercado, com quase 1,5 quilómetros de comprimento, um dos maiores nesta região. O caos e as cores atraem os cinco sentidos, desde os cheiros provenientes das especiarias, à fruta fresca ou aos kebabs. Neste mercado encontra-se de tudo.
No entanto, um dos pontos mais marcantes nesta cidade é Amna Suraka, um edifício vermelho onde, durante o regime de Saddam residia o Serviço de Inteligência Iraquiano, conhecido por mukhabarat, um serviço extremamente brutal e implacável. Hoje permanece como museu, como que uma testemunha para o mundo puder ver a forma como os curdos eram mantidos em cativeiro e torturados. Existe ainda um corredor com 182 mil pedaços de vidro por cada vitima do regime de Saddam, e no tecto 5 mil luzes, representativo de cada vila curda destruida por Saddam.
Na nossa última tarde, subimos às montanhas no sopé de Sulay, onde Robert nos explicava que em pleno verão, como o era na altura, muitas famílias se deslocavam para as montanhas a fim de procurar temperaturas mais baixas, onde teriam maior conforto, para fazer picnic’s durante toda a tarde, apreciando a vista sobre Sulay e arriscando-se a apreciar um pôr do sol magnifico, tal como nós tivemos.
Pedro, muito boas fotos! Deves estar carregado de mais estórias para contar! Continua com o bom trabalho. Susa
ResponderEliminarObrigado Susana! :) Sim, bastantes..o complicado é mesmo escolhê-las :)
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