Sul de Marrocos, últimos dias de Março. Acordo de manhã em Zagora, em casa de alguns amigos marroquinos, depois de alguns dias de deambulações ao longo dos luxuriantes palmeirais e seus Ksar's (castelos de adobe), entre Ouarzazate - a porta para o sul - e Agdz, um incrivel oásis. Se estivermos só de passagem o olhar enganador revela-nos que provavelmente existe ali apenas mais uma vila entre tantas outras sem motivo de especial interesse que justifique uma paragem.
Zagora é uma cidade moderna criada pelos franceses, embora o oásis se encontre habitado desde "sempre". É conhecida pela expedição por parte dos Saadinos para conquistar Timbutku em 1591. É aí que estava à vista o famoso sinal Tombouctou 52 jours (Em caravana de camelos) .
Acordo cedo com Sharaf, a quem foi delegado levar-me a subir o Jebel (montanha) Zagora. Apesar da minha insistência, nenhum dos outros queria ir, pois estavam super cansados. Sharaf era o mais novo e por isso de certa forma foi o sacrificado, embora o próprio gostasse imenso de estar comigo - e vice-versa!
Confessou-me, enquanto caminhávamos, que detesta praticar o Ramadão, que fuge por respeito - e com medo, claro - durante o dia para os palmeirais às escondidas dos familiares para comer algo mais, até à iftar (a refeição ingerida durante a noite com a qual se quebra o jejum diário).
A subida parece ser constituída de "loops" infinitos, os quais sentia particularmente mais longos à medida que o sol ia ficando mais forte.
Ao atinjimos o cume fico a apreciar as vistas espetaculares daquela montanha, com Zagora bem lá em baixo a revelar a grandeza dos palmeirais de norte a sul seguindo o rio Drâa, enquanto que no horizonte se levantam tempestades de areia que se tornarão mais fortes ao longo da tarde e que eu próprio irei sentir na pele.
Despeço-me com amizade de Sharaf e dos outros e sigo à boleia para sul até M'hamid, a cerca de 150 quilómetros, de forma a alcançar o deserto na sua plenitude. Chegarei nesse dia ao final da tarde.
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