domingo, 23 de setembro de 2012

"Mi casa es tu casa": Dara (Sudoeste Anatólia - Turquia)


Encontrava-me em pleno Sudoeste da Anatólia, mais precisamente em Mardin, quando quis procurar aldeias isoladas de forma a sentir a vida rural. Fui ter a Dara, a cerca de 30 quilómetros, onde encontrei exactamente o que procurava.
Dara é uma magnífica antiga cidade romana, que remonta ao século VI. Foi nesta localidade da Mesopotâmia que foram construídos a primeira barragem e canais de irrigação. Existem também aquedutos e cisternas bastante impressionantes. No entanto, mais do que a história ou os monumentos, o que mais me marcou foi o contacto com os habitantes locais.

Chegar a Dara não foi fácil, os transportes são muito incertos e esperei algumas horas. Segui num dolmus (transporte colectivo) por uma paisagem desértica onde a estrada acompanha o serpentear de um vale preenchido por vegetação.
O Dolmus deixou-me à entrada da aldeia perto de um café, mas dado o tempo perdido para ali chegar, o meu instinto e curiosidade fizeram com que quisesse explorar a aldeia o mais rápido possível, apesar de estar no pico do calor.

Explorei todos os recantos da aldeia que se encontravam na altura despovoados. Apenas me cruzava com animais: galinhas, burros e vacas. As casas eram bastante humildes, sem acabamentos, somente construídas com pedra ou tijolo. Uma curiosidade com que me deparei foi que praticamente todas as casas habitadas tinham camas no exterior. Mais tarde percebi que dado o calor nos meses de Verão, os habitantes optavam por dormir ao relento.

Interrogava-me sobre onde estariam as pessoas e comecei por entrar nalguns pátios de casas. Numa delas, passei por uma senhora idosa que estava a tricotar e se assustou um pouco, enquanto a alguns metros surgiram dois homens. Conversámos um pouco, perguntei se podia subir ao terraço para fotografar, responderam-me que sim sem hesitar. Agradeci e quando ia a regressar à rua, reparei que no segundo piso estava um senhor à janela. Notei que esboçava um sorriso e acenou-me para dar a volta e subir as escadas. Convidou-me a entrar, pediu-me para me sentar no chão e desapareceu por breves momentos. Penso que teria ido à casa de um vizinho, pois trazia consigo um iogurte simples, outro com bulgur, um pão caseiro e çay para os dois.

O diálogo não foi muito fluído, dado que não falava muito inglês. Trouxe-me uma foto do filho que segundo percebi vivia na Holanda, enquanto ligava a televisão. Ainda hoje agradeço o convite, pois o calor era imenso e aquela sala mantinha uma temperatura fresquinha. Disse-me para ficar um pouco a descansar, enquanto comentávamos algumas coisas que surgiam na televisão, até agradecer e me ir embora.

Este foi talvez um dos episódios mais simples e espontâneos de hospitalidade que tive em viagem. Apenas nesta aldeia, e durante uma tarde, seguir-se-ão outros episódios semelhantes. Era exactamente isto que procurava quando pensei em deslocar-me aos meios mais rurais e é algo que apregoo a outros viajantes para fazerem, de forma a terem este tipo de experiências tão enriquecedoras e menos frequentes nas cidades ou nos grandes meios turísticos.











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