quarta-feira, 11 de abril de 2012

Lalish e os Yazidis, o Povo do Anjo Pavão - “O outro Iraque” (Parte II)



Provavelmente para a maioria é a primeira vez que ouve falar destes dois nomes. Também era para mim, quando me desloquei de Dohuk, primeira cidade pós-fronteiriça onde tive a oportunidade de pernoitar, para conhecer a sua comunidade. A sua religião Yazidi, com o seu lugar mais sagrado, Lalish.

A religião Yazidi tem cerca de 800 mil membros, grande parte residente no norte do Iraque. Os restantes estão espalhados pelos países vizinhos, como a Síria, Turquia, Georgia e Arménia. Nos últimos tempos, também na Alemanha dada a migrações que se verificam entre os dois países.

Fazem parte desta religião elementos do zoroastrismo, maniqueísmo, cristianismo, islamismo e judaísmo. Vejamos alguns exemplos :



  • Como os Hindus acreditam na reencarnação, mas também acreditam na transmigração da alma entre corpos, seja humano, animal ou até vegetal.

  • Praticam o baptismo, tal como no Cristianismo.

  • Quando rezam, voltam-se para o sol, tal como os Zoroastras.

  • Como os Mithras, sacrificam touros.

  • Dizem distanciar-se do Islão, mas existem laços bastante fortes com o Sufismo, um ramo místico do Islão.

  • Têm Deus como único criador mas a sua força é representada por Malak Taus, o anjo pavão e outros seis anjos;

  • Não existe o inferno, pois Malak, encheu sete jarras de lágrimas durante sete mil anos, que foram utilizadas para extinguir o fogo do inferno;

  • Acreditam ser os únicos descendentes de Adão e não Eva, como todo o resto do mundo;

  • Não é permitido conversões como no caso do Islão por exemplo, a pessoa terá que ter nascido Yazidi;

  • A monogamia é praticada, mas nas castas superiores é possível ter várias mulheres;

  • O divórcio só é possível resultante de adultério, e só possível com três testemunhas do mesmo. Existe apenas uma excepção, se o marido estiver ausente por um ano, ele estará automaticamente divorciado da sua mulher e perde os direitos de voltar a casar dentro da comunidade;

  • Não é possível casamentos com pessoas de outras religiões. No fundo mantêm sempre a religião dentro da sua comunidade desde sempre.


Lalish, é como referi o local mais sagrado para os Yazidis, e onde todos, uma vez na vida terão que fazer peregrinação. Crêem que foi onde o seu anjo Malak apareceu na Terra pela primeira vez. Encontra-se num vale profundo, bastante longe de tudo e de certa forma, de difícil acesso.

Desloquei-me a Lalish numa quarta-feira, por ser exactamente o dia mais sagrado e ter a oportunidade de comunicar com mais seguidores desta fé.

Uma questão que me ocorreu, era se seria benvindo, como iria ser recebido, se poderia ou não ser intrusivo a minha presença, especialmente acompanhado ainda pela minha companheira de viagem, a Vanessa.

Tal foi a surpresa, ou talvez já não. Fomos incrivelmente bem recebidos por todos! Todos queriam saber algo mais sobre nós, porque estávamos ali, de onde vínhamos, etc. Tirámos inclusive inúmeras fotos com várias familias, e insistiram bastante para irmos com eles para suas casas. Como não podíamos, deram-nos contactos telefónicos e moradas para o casode passarmos pelas suas aldeias, dizermos algo. Ainda chamaram um jovem que falava inglês que nos mostrou de uma ponta à outra todo este local sagrado e ainda nos serviram um segundo almoço do dia. Um prato enorme de frango, com vegetais e arroz. A Vanessa reclamava comigo:“Mas porque é que aceitaste?Comemos imenso há uma hora!”, mas com convites assim, é impossível dizer que não, e a muito custo tentámos comer o máximo possível.



É nestas sete pirâmides que dizem estar sepultados os sete anjos, entre eles Malak.







Alguns dos responsáveis por Lalish que nos convidaram a almoçar.
















O anjo pavão, Malak Taus.

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